INTEGRIDADE E BOA GOVERNANÇA NO ESPORTE? TOMARA, E SEJA BEM-VINDA

Ao final do mês de Julho foi anunciada a criação da SIGA Latin America, o braço latam da instituição líder mundial em integridade e boa governança no esporte.

Esse movimento de expansão das atividades da SIGA, realizado em conjunto com o Pacto pelo Esporte[1] e Arena Hub[2], tem por objetivo restaurar a reputação do setor esportivo e recuperar sua credibilidade, em uma agenda de diálogo positivo que privilegiará a cooperação e o respeito mútuo.

Segundo Emanuel Macedo, CEO e fundador da entidade, “a criação da SIGA Latin America representa um momento de transformação para o nosso movimento global e para a integridade no esporte. Quase 700 milhões de pessoas vivem aqui (na América Latina), todas elas apaixonadas pelo esporte, incluindo algumas das organizações esportivas mais icônicas e muitos dos melhores atletas que o mundo jamais conheceu. Eles têm o apoio de uma comunidade empresarial liderante. Uma comunidade que, como os mais dinâmicos patrocinadores brasileiros estão a demonstrar, quer o esporte governado e gerido sob os mais elevados padrões de integridade, livre de corrupção, má gestão financeira e comportamentos que atentam contra a ética”.

Enquanto a SIGA Américas tem sede em Washington e a SIGA Europa está baseada em Lisboa, a SIGA Latin America terá seu escritório em São Paulo.

O lançamento contou também com a participação de representantes do Comitê Olímpico do Brasil (COB), do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e da ONG Atletas Pelo Brasil.

E a notícia é boa.

Escândalos de corrupção no esporte foram presença constante nos noticiários dos últimos anos, tanto no Brasil como internacionalmente. A própria Copa do Mundo do Catar, que se avizinha, tem sua mácula, pois denúncias de pagamento de subornos aos membros do comitê responsável pela escolha do país sede foram comprovadas, com propinas pagas na casa dos milhões de dólares.

Quando falamos em falta de transparência e suspeitas de ilícitos, o Comitê Olímpico do Brasil, em história recente, viu-se nas manchetes mundiais, com seu presidente preso sob a acusação de intermediar a compra de votos para a cidade do Rio de Janeiro ganhar o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2016.

O mesmo acontecendo para inúmeras confederações nacionais, dos mais diversos esportes, que tiveram presidentes afastados por conta de diversas irregularidades, sobretudo quando recursos financeiros estão em jogo.

Caso notório, porém, fica a cargo da Confederação Brasileira de Futebol – CBF, que teve seguidos presidentes envolvidos em casos de suborno e propinas, alguns banidos e presos em jurisdições afora.

Mas não só esse tipo de crime acompanhou a CBF nos noticiários. Seu ex-presidente, Rogério Caboclo, foi afastado do cargo no início do ano de 2022, após a denúncia de assediar moral e sexualmente uma funcionária da instituição, bem como moralmente um diretor.

 

Os desvios de conduta no esporte, todavia, não ocorrem apenas em meio aos ‘cartolas’, mas também os atletas se envolvem em situações em que o comportamento ético e leal não são considerados no ambiente competitivo, como nos casos de doping.

Caracterizado pelo uso de substâncias que podem alterar a resposta do corpo frente a um estímulo, a maior parte dos casos de doping está relacionada ao esporte, quando atletas, técnicos, comissões técnicas e dirigentes buscam potencializar o rendimento, força, agilidade e até mesmo a perda ou ganho de massa corporal, para que os resultados em pistas, quadras, campos e piscinas se sobressaiam.

Por conta disso, atletas já foram banidos de competições, e títulos e medalhas já mudaram de mãos anos depois da linha de chegada, do apito final ou da bandeirada, e, o mais triste, mortes precoces de atletas já foram relacionadas ao uso de substâncias anabolizantes.

Considerado o maior escândalo de doping da história, em 2019, a WADA, Agência Mundial Antidoping, concluiu a análise de evidências no sentido de que os russos alteraram dados laboratoriais sem autorização, plantaram evidências falsas e apagaram arquivos conclusivos de possíveis casos de doping, tudo isso patrocinado pelo governo local.

Neste caso, de forma orquestrada, também o Estado russo estava por detrás da situação investigada.

Por conta disso, 335 atletas foram considerados “neutros” e não competiram sob a bandeira da Rússia nas Olimpíadas de Tóquio em 2021.

E casos outros não faltam, como a manipulação de resultados de jogos para favorecimento de apostadores, seja por atletas, seja por árbitros.

Se o objetivo da SIGA é promover elevados padrões de integridade e boa governança no esporte, como parte de uma reforma global para restaurar a reputação do setor e recuperar a sua credibilidade, que seja muito bem-vinda.

E o que essa notícia tem a ver com os desafios corporativos?

Tudo. Integridade falada e vivida, dia a dia, da alta liderança à ponta da operação, de forma genuína, só fazem por estimular um ambiente cada vez mais justo, perene, saudável, de respeito às normas e às regras, assim como no esporte.

Na quadra, no campo, na piscina ou no escritório, seguindo esse caminho, todos serão campeões.

 

 

 

 

MARCO AURELIO BAGNARA OROSZ

marco.orosz@fius.com.br

 


[1] Promovido pela Atletas pelo Brasil e parceiros, o Pacto pelo Esporte é um acordo privado e voluntário entre empresas patrocinadoras do esporte brasileiro, que tem como objetivo contribuir para que entidades esportivas pratiquem uma gestão profissional, íntegra, com transparência e governança.

[2] Centro de inovação e fomento ao empreendedorismo, que visa desenvolver a Indústria do Esporte, Mídia e Entretenimento, gerando impacto econômico e social, conectando profissionais, startups, entidades, universidades, centros de pesquisa, estudantes, atletas, investidores e grandes empresas do ecossistema.

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